O cidadão e o ambiente


Luiz Gonzaga Belluzzo, CartaCapital

“A crise global tem lá suas virtudes. Entre as raras, lançou os economistas nas hostes da defesa do ecúmeno. Em alguns casos, leio e vejo o tema tratado com respeito. Respeito e sem despeito pelo sujeito que realmente interessa na relação economia–sociedade-natureza, o cidadão e suas condições de vida.

Kenneth Rogoff publicou um artigo implacável sobre o tema, sem flutuar nas indefinições convenientes que opõem genericamente o progresso econômico à preservação ambiental. Progresso e econômico são nominações sem conceito e se prestam a tergiversações ideológicas e álibis interessados. Nessas caixas aconcentuais cabem quaisquer contrabandos, como, por exemplo, o consumismo desaçaimado, introduzido na história como um deus ex machina.

Em seu artigo, Rogoff revela algumas inclinações perigosas num mundo que se acoita nas paliçadas do politicamente correto. Uma delas é dar o nome e endereço dos processos que desataram a agressão ao ecúmeno e à vida civilizada no planeta. “A sistemática e ampla falha regulatória é o elefante enfiado na sala do capitalismo ocidental.” Rogoff diz que a dinâmica político-financeira levou ao ataque cardíaco da economia em 2008, mas está interessado em ir além e investigar as mazelas constitutivas, estruturais, do dito capitalismo ocidental. Cuida da indústria de alimentos e de sua influência “maligna nos padrões de nutrição e na saúde dos cidadãos”. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças constatou que um terço dos adultos americanos é de obesos. Ainda mais chocante: entre seis crianças, uma é obesa. Os custos da obesidade não se restringem aos danos causados aos indivíduos, mas pesam no bolso da sociedade sob a forma de maiores gastos com saúde.

Rogoff não foge das perguntas inconvenientes. Os americanos são naturalmente inclinados a comer porcarias, junk food, ou a indústria de alimentos forra o caixa vendendo a gororoba com aditivos químicos destinados a criar hábitos irresistíveis de consumo? Resposta: os cientistas são pagos para combinar sal, açúcar e aditivos químicos de modo a tornar os últimos instantes da refeição mais atraentes e viciosos; as agências de propaganda são pagas para dominar as preferências dos consumidores e, no fim da linha, a indústria privada da saúde faz fortuna ao tratar das doenças provocadas pelo consumo de venenos. O “capitalismo coronariano”, conclui Rogoff, faz sucesso nas bolsas de valores que negociam diariamente as ações das processadoras de alimentos.”
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