Menalton Braff, Revista Bula
“Em fins do século XIX, houve uma escola
literária que tinha como característica, entre outras, a zoomorfização. O ser
humano era reduzido à sua animalidade. Aluísio Azevedo, o maior representante
dessa corrente entre nós, descrevendo o amanhecer do cortiço, escreve “...os
homens, esses não se preocupavam em molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça
bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas ...”
Durante o curto período que durou o governo
Collor, seu ministro do trabalho, Rogério Magri, viajou para a Suíça a fim de
participar de um congresso de sua área. Um jornalista brasileiro flagrou-o
passeando com seu cachorro, tranquilamente como se estivesse em viagem de
recreio. Perguntado sobre a razão de ter levado seu cão, com a maior
naturalidade o ministro respondeu: — Ora, mas cachorro também é
gente.
Pronto, estava inaugurado o período da
antropomorfização. Invertiam-se, a partir daquele momento, as tendências. Não
sei por que razão, mas é fato que qualquer cidadão por mais distraído que seja
pode comprovar com os fatos sociais. É prova empírica, por enquanto, eu sei,
mas acredito que em breve, muito breve, surgirão as dissertações de mestrado,
as teses de doutorado, as pesquisas de cunho científico, com estatísticas e
todo o arsenal da metodologia científica, para que tenhamos de aceitar como
fatos sociais cientificamente comprovados. Agora, contrariando o Naturalismo,
os animais começam a ser elevados à condição humana. E isso tudo terá começado
com um ministro do governo federal de quem muito pouca gente ainda se lembra.”
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