Direito de opinião de jornalistas


Mário Augusto Jakobskind, Direto da Redação

“Na Bolívia, o governo acabou de aprovar um decreto que deve provocar rebuliço no patronato midiático agrupado na Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP).  De agora em diante as empresas jornalísticas, públicas e privadas, serão obrigadas a reservar espaços de opinião diários para que os jornalistas expressem livremente suas ideias.

Empresa midiática não é como outra qualquer. Empregar capital nesse setor requer um mínimo de sentido coletivo e social, que muitas vezes os proprietários do setor desconhecem e fazem questão de passar ao largo. Agem como se estivessem acima do bem e do mal.

No caso boliviano, os jornais devem destinar, diariamente, em suas páginas de opinião, um espaço equivalente ao de um editorial para que os seus jornalistas e outros trabalhadores ligados a sindicatos e federações de imprensa expressem as suas ideias em notas assinadas. No caso de rádios e de TVs estatais, as empresas deverão ceder aos jornalistas cerca de três minutos exclusivos em um de seus informativos diários. É proibido qualquer tipo de censura às opiniões a serem emitidas.

No Brasil, a TV Brasil, uma TV Pública, daria o exemplo se procedesse dessa forma.

Embora possivelmente os barões da mídia devam se opor à medida e apresentar a justificativa surrada de restrição à liberdade de imprensa ou algo do gênero, o fato é que o decreto ampara a liberdade de expressão.

Perguntem aos jornalistas que trabalham na mídia de mercado destas bandas o que podem fazer para demonstrar contrariedade com a opinião dos proprietários dos veículos de comunicação. Muitos, sob a alegação de que precisam sobreviver, engolem em seco o posicionamento que contraria os seus pontos de vista. Não podem fazer nada, inclusive ficam ameaçados de perder o emprego se por acaso reagirem. Algumas empresas proíbem manifestações em blogs ou outros espaços. As Organizações Globo, a Folha de S. Paulo, a revista Veja e etc. que o digam.  

Trata-se, portanto, de algo restritivo à liberdade de expressão. Se por aqui adotassem a referida legislação recém-aprovada na Bolívia provavelmente alguns jornalistas aproveitariam a oportunidade para demonstrar aos leitores que não compactuam com o reacionarismo patronal, também muitas vezes manipulativo em termos de cobertura jornalística.

É claro que medida dessa natureza não afetaria os colunistas de sempre, que muitas vezes para provar “fidelidade” se comportam de forma absolutamente subserviente. Que o digam certas figuras como Merval Pereira, Reinaldo Azevedo and cia ltda.”
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