Reinaldo Canto, Envolverde / CartaCapital
“Segundo o Detran, a cidade vai atingir essa impressionante marca até o fim de março. Mas afinal, tal fato é digno de júbilo ou de pesar?
A resposta para o questionamento acima mencionado irá depender, obviamente, do ponto de vista e dos valores do observador.
Para os adeptos da velha economia e amantes do transporte individual a notícia poderá ser motivo de comemorações. Esses hão de considerar que o expressivo número significa que São Paulo transformou-se numa metrópole digna do primeiro mundo, com uma economia pujante e próspera, na qual cada vez mais pessoas podem satisfazer seus desejos de consumo.
Já para aqueles que compartilham os valores do desenvolvimento sustentável e da melhoria da qualidade de vida, a informação causa, no mínimo, um certo desânimo. Simboliza uma vitória do retrocesso e do passado em detrimento da construção de uma cidade mais equilibrada e amigável para se viver.
Números não mentem
Algumas informações adicionais são importantes para que os indecisos possam fazer suas escolhas. Segundo matéria publicada pelo caderno Metrópole do jornal O Estado de São Paulo baseada em dados fornecidos pelo Detran, em 1970, a capital paulista tinha registrados 965 mil veículos para 14 mil quilômetros de vias. Já para os 7 milhões de veículos existem hoje na cidade, 17 mil quilômetros de ruas e avenidas pavimentadas. Não é por outra razão que os congestionamentos por estas bandas são cada vez mais freqüentes.
Espanta também o fato da frota de veículos crescer seis vezes mais rápido que a população de São Paulo. Já temos mais veículos por habitante (630 para cada mil paulistanos) do que Japão (395), Estados Unidos (478) e Itália (539 veículos para cada mil italianos).
Direito fundamental
Contribui de maneira decisiva para esse crescimento descomunal um fator cultural bastante disseminado em nosso país: o sonho de possuir um carro próprio.
Ouço com insistência que o estabelecimento de medidas de cerceamento a venda de veículos, seria uma indesculpável discriminação com as classes C e D que, graças às facilidades do crédito, finalmente podem adquirir carros com prestações que caibam nos seus bolsos.
Segundo essa lógica ser proprietário de um veículo de passeio seria um direito inalienável tanto quanto os direitos a saúde, alimentação, moradia e educação. Mas é preciso, antes de mais nada, levar em conta as necessidades da sociedade como um todo. Aí sim, um dos principais direitos fundamentais fica enormemente prejudicado com o entupimento das nossas vias por esses veículos de passeio, ou seja, o direito de ir e vir. E pelo que podemos assistir, antes de melhorar, essa situação deve piorar ainda mais.”
Artigo Completo, ::Aqui::
Comentários