Programas sociais brasileiros podem ajudar Oriente Médio

Em entrevista à Carta Maior, o embaixador do Brasil no Egito, Cesário Melantonio Neto, fala sobre a situação política no Oriente Médio e destaca a oportunidade que se abre para o Brasil na região. “Considerando os problemas sociais e econômicos que estão na base dos protestos, imagino que os novos governos de países como o Egito e a Tunísia terão interesse nos programas sociais brasileiros. Há uma grande demanda social para isso e o Brasil pode ser um parceiro importante uma vez que já tem uma valiosa experiência nesta área,” diz o embaixador.

Marco Aurélio Weissheimer, Carta Maior

O embaixador brasileiro no Egito, Cesário Melantonio Neto, está há mais de nove anos atuando no Oriente Médio, com passagens pelo Irã, Turquia e, agora, no país que surpreendeu o mundo neste início de ano com uma revolta popular que derrubou o ditador Hosni Mubarak. Em entrevista à Carta Maior, o embaixador fala sobre a situação no Egito e na região, defende uma transição política que respeite as liberdades civis da população e realize eleições para escolher um governo capaz de enfrentar os graves problemas sociais do país. Além disso, destaca a oportunidade que se abre para o Brasil na região.

Considerando os problemas sociais e econômicos que estão na base dos protestos, imagino que os novos governos de países como o Egito e a Tunísia terão interesse nos programas sociais brasileiros. Há uma grande demanda social para isso e o Brasil pode ser um parceiro importante uma vez que já tem uma valiosa experiência nesta área”, diz Cesário Melantonio Neto.

Carta Maior: Qual a sua avaliação sobre os protestos das últimas semanas no Egito e sobre sua consequência principal que foi a queda do presidente Hosni Mubarak?

Cesário Melantonio Neto: Como praticamente todos os embaixadores que estão no Egito, acompanhei esses acontecimentos com enorme interesse, sobretudo porque estou já há um longo período no Oriente Médio. Foram três anos como embaixador no Irã, três anos e meio na Turquia e, agora, mais de três anos no Egito. Posso garantir que sentimento geral dos embaixadores é de muita esperança com essa transição política. Esperança de que ela seja de fato uma transição de seis meses, que respeite as liberdades civis da população. Essa é, inclusive, a posição do Brasil.

Além do respeito às liberdades civis da população, outra prioridade importante agora é a restauração da ordem econômica do país. É preciso ter em mente que a economia do Egito foi muito atingida pelos protestos das últimas semanas. Os prejuízos estimados variam entre 9 e 10 bilhões de dólares, em um país cujo Produto Nacional Bruto é de aproximadamente 200 bilhões de dólares. Essa revolução aconteceu exatamente no período de maior afluxo de turistas, quando a temperatura não é tão quente. Calcula-se que mais de um milhão de turistas foram embora, o que representa uma perda de aproximadamente 11% da riqueza nacional. Além disso, muitas empresas cancelaram ou adiaram investimentos que estavam planejados.

Um dos grandes motores dos protestos foi a grande presença de jovens na rua, jovens na sua maioria sem emprego. Cerca de 90% deles está nesta situação. A distribuição de renda também é muito ruim no Egito. Cerca de 40% da população vive com um ou dois dólares por dia. Nos últimos anos não houve nenhuma reforma social. Uma grande massa da população foi extremamente impactada pelo aumento da inflação (15% em 2010), particularmente grave no caso dos produtos alimentícios. A classe média, embora pequena, também foi se pauperizando, o que explica porque também saiu às ruas, solidarizando-se com os jovens e os setores mais pobres da população. Foi a conjunção destes fatores que levou milhões às ruas.”
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