Nas ruas, como nos velhos tempos

Rodolpho Motta Lima, Direto da Redação

“Os recentes acontecimentos mundiais, que envolvem, em distintas áreas do planeta, grandes manifestações populares de insatisfação com governos discricionários e, em alguns casos, a própria derrubada desses governos , nos convida a uma reflexão saudosista.

A saudade, no caso, conduz-nos aos anos 60, 70, 80, onde, no Brasil e no mundo - aqui, antes e depois do golpe militar - o comprometimento social das pessoas se expressava através de mobilizações de massa, na luta por direitos então considerados não atendidos, suprimidos ou em vias de supressão. A indignação marcava nas ruas sua presença – muito mais que hoje - em passeatas que, reprimidas ou não, simbolizavam a inconformada voz do povo. Essa época imortalizou um grito de afirmação da soberania popular: “O povo unido jamais será vencido !”

As manifestações no Oriente Médio contrastam com uma certa passividade que atualmente a sociedade ocidental deixa manifesta, diante de fatos que deveriam provocar imediata mobilização, em cenários que apresentam diferentes graus de relevância, mas que, em última análise, revelam o primado da inação.

Houve reações na Itália aos desmandos de Berlusconi, mas espera-se mais do povo italiano diante dos destemperos, da derrocada moral e do verdadeiro escárnio de um presidente que parece pairar acima daqueles que pretensamente representa e que, ironicamente, ameaça pôr, ele sim, os seus partidários na rua para defender suas posturas reprováveis.

Comunidades nacionais inteiras, mundo afora, estão a conhecer, sem reação considerável , as declaração do ex-Primeiro Ministro britânico Tony Blair, reconhecendo o “equívoco” da análise da existência de armas atômicas no Iraque, e, indiretamente, admitindo uma certa manipulação deliberada da opinião pública em ação que redundou em dezenas de milhares de mortes naquele país.

E o americano médio, que assistiu, sem questionar , a um filme como “ Sicko”, de Michael Moore (de denúncia aberta dos males cometidos contra a saúde do povo em nome da ganância), aceita, igualmente sem grandes reações, os posicionamentos de rejeição ao plano do Obama que procura contrapor-se a essa perversa engrenagem.”
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