Ana Cláudia Barros, Terra Magazine
“Quando receber a faixa presidencial das mãos de Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 1º de janeiro, a petista Dilma Rousseff confirmará sua presença no restrito grupo de mulheres que estiveram no comando de seus países. Deixará sua assinatura num rol que conta com nomes como Violeta Chamorro (Nicarágua), Michele Bachelet (Chile) e Cristina Kirchner (Argentina).
Para a cientista política Teresa Sacchet, do Núcleo de Pesquisas de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), é "extremamente positivo", o simbolismo de se ter uma figura feminina na presidência da República. Porém, mais do que isso, Teresa acredita que, durante os quatro anos de governo Dilma, o País avançará em termos de políticas públicas voltadas para as mulheres.
- O discurso (logo após o anúncio da vitória) dela (Dilma) foi muito afirmativo no sentido das políticas públicas do novo governo... Ela poderia ter feito um discurso neutro, como tinha mais ou menos feito durante a campanha. Ela se colocou como mulher. Não só falou das desigualdades de gênero e da intenção de fazer algo sobre isso, mas falou para os pais e para as mães para educarem suas meninas, dizendo que elas também podem (ser presidentes). Isso sinaliza algo muito importante e, portanto, me leva a crer que, sim, esse governo vai olhar com mais carinho para as questões de gênero.
A cientista lembra, entretanto, que a participação feminina na política brasileira ainda está a léguas do ideal e que, por mais que a presença de Dilma no cargo de maior expressão da nação possa funcionar como estímulo, é preciso mais para reverter o quadro.
- Temos problemas institucionais. O problema sério aí é o financiamento eleitoral, público e privado. São discussões que vamos precisar trazer. Não basta ter uma mulher na presidência para aumentar o número de mulheres nas posições de poder.
Sobre as ilações, recorrentes ao longo da disputa presidencial, de que Lula continuará no comando, Teresa interpreta como uma tentativa de desqualificar Dilma.
- Quando Lula assumiu a Presidência da República, ouvíamos isso em relação a ele. O fato de ele ser um trabalhador fazia com que muitos acreditassem que não tinha capacidade para governar. E, por muito tempo, foi dito isso, que ele era fantoche nas mãos de alguns quadros no partido. É muito estranho que agora o Lula seja colocado nessa posição do grande manipulador.
Terra Magazine - Durante pronunciamento oficial, logo depois da vitória, Dilma Rousseff afirmou que ser a primeira mulher eleita presidente do Brasil era uma "demonstração do avanço democrático do país". Qual o simbolismo, na opinião da senhora, de se ter, pela primeira vez, uma mulher na Presidência do Brasil?
Teresa Sacchet - Avalio que é extremamente positivo, pelo teor simbólico, ter uma mulher na presidência, no cargo mais importante da nação. Agora, se você me perguntar a importância de se ter uma mulher como a Dilma na presidência, aí, eu acho que há outros fatores que agregam. Você não pode isolar a figura da mulher do projeto partidário, do projeto governamental.
É uma variável importante sempre que se analisa o gênero, porque potencializa, cria maiores possibilidades de que uma agenda mais voltada para os interesses das mulheres seja representada na esfera pública. Eu creio que o fato de a pessoa ter vivido, ter tido uma experiência, seja ela mulher, seja negra... Acredito que as diferentes identidades contribuem para trazer para o legislador, nesse caso, na esfera executiva, uma perspectiva diferente da política.
Acho que a experiência de vida é um fator importante e potencializa a representação de políticas mais voltadas para os interesses desses grupos que falei. No entanto, não há garantias. Não se pode dizer que toda mulher vai ser boa representante de uma mulher. Tivemos na Inglaterra a Margareth Tatcher, que muitos dizem que foi o contrário. Benefícios muito importantes para as mulheres foram cortados durante a gestão dela. Dizem que ela fez um desfavor às mulheres.
Por outro lado, o simples fato de ter uma mulher como primeira ministra, na avaliação de alguns analistas, foi importante para incentivar as meninas a, por exemplo, pensarem que podem ser primeiras-ministras também.”
Foto: Divulgação
Entrevista Completa, ::Aqui::
Comentários