Confusões da hora

"Pequena história pessoal para explicar o que significa garantir a verdadeira liberdade de imprensa

Mino Carta, CartaCapital

No final de 1956 saí do Brasil para ir trabalhar na Itália. No jornal turinês La Gazzetta Del Popolo, e 2 de janeiro de 1957 foi o primeiro dia de serviço. Lá fiquei por um ano e três meses. Foi bom aprendizado, de vários pontos de vista. Por exemplo, entendi como seria possível produzir um jornal de qualidade, bem escrito e bem acabado, com uma redação menor do que a dos brasileiros e resultados melhores. A começar pela escrita, fluente, rica, elegante.

Era o tempo de um processo judicial ruidoso, a envolver socialites e políticos influentes, de mais a mais realizado em Veneza, cenário deslumbrante, sem falar da presença no tribunal de juristas de fama mundial, entre eles um certo Carnelutti de quem muito ouvira e estudara na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

A Gazzetta enviou a Veneza quatro jornalistas, dois deles tinham cerca de 30 anos, para cobrir o evento de ângulos diversos. Todos escreviam a bico de pena sem descurar da precisão das informações.

Nada de preocupações com leads e pirâmides invertidas, muito menos em empregar algo em torno de cem palavras, se possível curtas. Descobri mais tarde que o chamado new journalism é invenção americana, na Europa foi praticado desde sempre.

Aprendi muito com alguns amigos em um país esperançoso às vésperas daquele que seria chamado o milagre italiano, onde era possível aprovar no Parlamento leis de alto conteúdo democrático. Algumas afirmavam o respeito devido à profissão jornalística. Deitaram raízes e até hoje mantêm a validade. Uma determinava que o patrão não poderia ser diretor de redação e sequer jornalista de carteirinha, como se dá no Brasil.”
Foto: Antonio Cruz, Agência Brasil
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