Dutra: PSDB trava uma "disputa medieval" com o PT

Claudio Leal, Portal Terra

“Numa semana de batalhas religiosas e morais sobre o aborto, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, critica os adversários do PSDB por imporem "uma disputa medieval" nas eleições. Segundo o petista, esse confronto nasce de uma "ausência de projetos" na campanha tucana.

- O Brasil é um país moderno, do século XXI, que está caminhando pra ser uma grande potência, e o PSDB quer reduzir a uma discussão de intolerância, de encontro a toda a tradição brasileira.

Dutra admite o uso do tema das privatizações no segundo turno, assim como ocorreu na reeleição de Lula, em 2006. Desta vez, o pré-sal deve protagonizar o duelo PT x PSDB. O presidente petista conversou com a reportagem depois de um encontro pluripartidário de Dilma Rousseff em São Paulo, nesta sexta-feira (8), no Palácio do Trabalhador.

Terra Magazine - O senhor acha que vai perdurar a estratégia do PSDB de debater a religiosidade e o aborto na campanha?
José Eduardo Dutra - Isso aí é decorrência. Como eles não têm projeto, perderam a disputa de projeto, querem transformar a eleição numa disputa medieval, o que é um absurdo. O Brasil é um país moderno, do século XXI, que está caminhando pra ser uma grande potência, e o PSDB quer reduzir a uma discussão de intolerância, de encontro a toda a tradição brasileira. O Brasil é um país cuja convivência entre as religiões e as raças é admirada no mundo todo.


Qual debate o senhor esperava?
A gente esperava um debate de projetos. Quem tem o melhor projeto para melhorar o Brasil e a vida dos brasileiros.

A questão das privatizações entrará nessa fase da campanha?
Eles colocaram agora. E não estamos falando de questões do passado. David Zilberstein, que é ex-genro do Fernando Henrique Cardoso, que foi presidente da Agência Nacional de Petróleo anterior, está propondo que volte o modelo de concessões para a exploração do pré-sal. Na prática, é você vender um bilhete premiado. Quando você fala em privatizações, não é só do passado, é do futuro também.

E a central antiboatos, como está funcionando no PT?
Estamos montando, porque a criatividade dos boatos é imensa. Estão inventado coisas do arco da velha. Estamos convocando toda a militância para responder a isso na internet, nos debates, nas ruas, nas casas, nas escolas. Essa é a tarefa.”

Comentários

Unknown disse…
Continua mais difícil do que parece

A campanha de Dilma Rousseff conferiu excessiva importância à popularidade do presidente Lula, à vantagem da propaganda gratuita e à capacidade da blogosfera de conter a sanha dos adversários. Subestimou a força dos instrumentos tradicionais de persuasão política (a parcialidade da mídia corporativa, o engajamento de lideranças religiosas, a disseminação de boatos, o clientelismo regional), que atingem um imenso público alheio à internet.

Também cometeu o equívoco de partidarizar a disputa entre os institutos de pesquisas, caindo na armadilha de apegar-se aos levantamentos alvissareiros como se fossem peças de propaganda. A militância criou enorme expectativa de vitória, que se alastrou para o restante do eleitorado. Em alguns meses, o segundo turno presidencial deixou de parecer previsível para transformar-se num verdadeiro triunfo oposicionista

Menosprezar o front paulista foi um erro estratégico indesculpável. Há muito sabíamos que o fortalecimento de Aloizio Mercadante poderia levar ao desgaste de José Serra no pleito nacional. A campanha de Mercadante começou isolada, amadorística, materialmente pobre. Quando engrenou, já havia desperdiçado um tempo valioso. O apoio de Geraldo Alckmin e Aécio Neves nos dois maiores colégios eleitorais do país permitirá a Serra atuar livremente nos redutos dilmistas.

Marina Silva cumpriu o papel que lhe coube desde o início: o de anti-Dilma. Aglutinou os votos indecisos ou descontentes, criou canais de fragilização da petista, reduziu a polarização que o PSDB temia. A “vitória” de Marina presenteia Serra com vinte milhões de potenciais eleitores, interessados muito mais na mudança do que na preservação do cenário político. É um eleitorado permeável à influência dos grandes veículos jornalísticos, e identificado social, cultural, econômica e geograficamente com as plataformas do tucano.

Serra também será favorecido com a animosidade da disputa pelos votos de Marina. Os eleitores dela já recebem ataques da militância petista e tendem a responder com um oposicionismo agressivo, moralmente determinado, que contagiará largas esferas da juventude urbana. As sombras espúrias do DEM e do quercismo serão momentaneamente afastadas para dar voz a formadores de opinião e lideranças políticas identificados com esse conservadorismo de cores “modernas”. A deputada que anda de bicicleta, o defensor dos cachorrinhos, o doutor recém-formado e artistas hipersensíveis encarnarão as novas Reginas Duartes amedrontadas.

E Dilma terá de sofrer quieta. A grande imprensa, convenientemente protegida pelo papel de vítima, acirrará o civismo de factóides. Qualquer reação à inevitável onda de ataques midiáticos alimentará o repertório truculento criado para a petista. Os aliados vitoriosos, satisfeitos com o generoso quinhão eleitoral recebido pelo apoio de Lula, hesitarão até o último instante em defendê-la.

O cenário apresentado é excessivamente pessimista, mas antecipa alguns dos obstáculos que a coordenação da campanha petista precisará contornar se não quiser que o segundo turno vire uma sangrenta batalha de resultado incerto. Àqueles que evitam as atribulações da realidade incômoda restará depois apenas lamentá-la.

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