A guerrilheira, ainda

Por que a revista da Globo desenterra o passado da candidata de Lula?

Mino Carta, CartaCapital

O passado de Dilma. Documentos inéditos revelam uma história que ela não gosta de lembrar: seu papel na luta armada contra o regime militar. Para explicar a foto em branco e preto estampada na capa de uma Dilma mocinha é o que nos conta a revista Época da semana passada. Não costumo ler a publicação da Globo, mas, alertado pelo leitor Wilson Moreira, de Curitiba, desta vez vou a ela, tomado de curiosidade.

Por que a semanal de uma empresa de comunicação devota da candidatura de José Serra à Presidência da República entrega-se à evocação do passado da antagonista? Haverá quem diga: todos sabem que a candidata de Lula militou na luta armada contra a ditadura e as reportagens de Época se destinam a esclarecer os fatos, documentos à mão. Obra oportuna, portanto. Meritória. E não seria o caso de dizer necessária?

A mídia da Globo não declina a devoção a que me referi acima. Pelo contrário, como o resto dos seus mais ilustres companheiros midiáticos, não perde a ocasião de declarar sua isenção, a qual seria própria do jornalismo verdadeiro, fator indissolúvel da profissão. Trata-se de besteiras dignas de figurar no Febeapá do saudoso Stanislaw, mas as besteiras, abundantes nas nossas paragens, pesam menos, muito menos que a hipocrisia.

Certo é que o qualificativo guerrilheira baila na boca dos frequentadores dos recantos finos para acompanhar o nome da candidata de Lula, quando não é suficiente para identificá-la por si próprio, como seria Perigo Público nº 1 nos tempos de Al Capone.
Leio os dois textos que compõem a reportagem, um sobre a Dilma guerrilheira, outro sobre a Dilma prisioneira. Bem trabalhados, eu diria sem ares de professor. O que me intriga é a pensata. A ideia que pautou os diligentes repórteres. Não, não solfejarei que gostaria de apostar em razões do mais puro jornalismo, voltado à missão de iluminar o caminho dos leitores. Aí eu mesmo mergulharia em hipocrisia.”
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