Dilma ganha voto feminino após dizer que é mãe, diz pesquisa

Carolina Oms, Terra Magazine

“A pedido do Instituto Patrícia Galvão, o Datafolha e o Ibope aplicaram um filtro por gênero para separar os dados de homens e mulheres em suas pesquisas. Analisados pela socióloga e especialista em pesquisas de opinião, Fátima Pacheco Jordão, os dados demonstram o peso que o eleitorado feminino terá nestas eleições.

A Terra Magazine Fátima afirmou que, historicamente, o eleitorado feminino no Brasil demora mais para definir seu voto: "A mulher é muito mais seletiva, mais crítica, espera mais tempo para agregar informações".

Pesquisas Ibope e Datafolha divulgadas entre maio e julho de 2010 (Fonte: Instituto Patrícia Galvão)

A comparação entre as pesquisas mostra que a candidata do PT, Dilma Rousseff, cresceu na intenção de voto feminino, empatando segundo o Ibope e diminuindo a diferença segundo o Datafolha.

Na análise da socióloga, isso ocorreu porque, nos dias que antecederam a pesquisa, Dilma começou a adquirir uma personalidade própria e "um discurso voltado para certos segmentos femininos, de que ela cuida, que ela é mãe. Aumentou a identificação entre ela e as mulheres".

Apesar do avanço, segundo a análise de Fátima, a dificuldade da candidata no segmento feminino permanece. A diferença entre intenções de votos entre homens e mulheres varia de 7 a 13%, inclusive nos locais em que Dilma tem alto índice de preferência dos eleitores de forma geral, como na Bahia

Terra Magazine - Os números das pesquisas mostram que o percentual de mulheres que votam em Dilma cresceu e o de José Serra (PSDB) diminuiu. Por alguns meses, Serra manteve grande vantagem entre as eleitoras. O que mudou?
Fátima Pacheco Jordão - Tem que avaliar como foram os dias que antecederam a pesquisa (Datafolha): ela foi feita em um momento que os telejornais cobriam os candidatos e a Dilma começou a adquirir uma personalidade própria e entrou com um discurso voltado para certos segmentos femininos, de que ela cuida, que ela é mãe. Aumentou a identificação entre ela e as mulheres.
Simultaneamente, houve um protagonismo do vice do Serra, que foi crítico, contundente. Ele elevou a temperatura da campanha e o grande eleitorado, sobretudo as mulheres, está muito preocupado com o que vai acontecer com políticas públicas e tem uma percepção de que, quando o candidato fica agressivo com o outro, deixa de olhar para o eleitor. A postura de antagonismo precisa ser muito bem dosada. É possível que a campanha Serra tenha surpreendido as eleitoras, porque até então o Serra vinha fazendo uma campanha muito voltada para as políticas públicas. Ele não contestava aspectos da economia, da política externa do Lula e provavelmente esse tom de crítica não foi bem dosado.
Isso é uma hipótese. O que ocorreu efetivamente foi a Dilma mais voltada para um discurso que agrada as mulheres e a campanha Serra adquirindo um tom mais agressivo, talvez o timing dessa crítica não tenha sido adequado.

A pesquisa também mostra que a volatilidade do voto feminino é maior. Essa é uma característica dessa eleição ou da política no Brasil como um todo?
Como um todo e há muitas eleições. A mulher é muito mais seletiva, mais crítica, espera mais tempo para agregar informações. Na véspera da eleição, as pesquisas mostram que as mulheres são maioria entre os indecisos. Provavelmente, elas querem ouvir mais, ler mais e são mais desconfiadas. Além do que, a campanha, nessa fase final, adquire um repertório de assuntos muito mais próximo das mulheres: no horário eleitoral, fala-se, sobretudo de políticas públicas, políticas sociais, saúde, educação, transporte, segurança. Até agora, a campanha política, até poucas semanas atrás, é jogo de poder. Agora as campanhas entram na fase de "como vamos falar pro eleitor?" e o eleitor entende de cotidiano. A fase da campanha em que as mulheres entendem o que os políticos estão dizendo vem agora.
Os homens estão mais preocupados com salário, com emprego, com capacidade de ascensão. Eles não vão à reunião de pais e mestres, ele não levam filho pra vacinar, eles frequentam menos o sistema público de saúde. Essa é uma fase que a campanha se feminiza, vai pra dentro de casa, vai pra televisão... E a mulher tem muito traquejo em TV, ela assiste mais do que o homem. É uma fase que há uma maior sensibilização entre as mulheres.

Há resistência do eleitorado feminino em votar em mulheres?
Ficou provado que não. Isso é um mito. Na verdade, é maneira de interpretar erroneamente uma situação que é desigual, não há paridade política: o Brasil elege 12 a 13% de mulheres. Não havendo essa paridade, a interpretação é que as mulheres são a maioria do eleitorado, então mulher não vota em mulher. Nessa eleição isso foi francamente confrontado, nós temos duas candidatas mulheres. Nunca o Brasil teve candidatas competitivas para a presidência, mas várias mulheres foram eleitas em governos e prefeituras, como em São Paulo.

A candidata Marina Silva, no entanto, possui distribuição de eleitores por sexo semelhante a de Serra. Dilma pode ter alguma qualidade que o eleitorado feminino rejeita?
É provável, porque só agora a candidatura Dilma está vencendo essa barreira. Ela conseguiu empatar, no eleitorado feminino, com o Serra em alguns itens, como intenção de voto. Mas eu tenho a impressão que é uma questão de campanha, de comunicação. Há vários segmentos de mulheres, é difícil falar "as mulheres". Alguns segmentos rejeitam pelo segmento ideológico, outras rejeitam por ainda não enxergarem nela qualidades que justifiquem a continuidade, outras por não saberem direito o que ela pensa sobre saúde, educação, porque a campanha ainda não esclareceu isso.”
Foto: Pedro Silveira, O Tempo / Futura Press

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