Carniceiros da Tragédia

Urariano Mota, Direto da Redação

"Os jornais de hoje revelam, de passagem, que a causa decisiva do desastre da TAM em julho de 2007, em São Paulo, foi a posição incorreta do manete direito, que controla a potência da turbina direita do avião. Agora. Mas enquanto houve sangue fresco e restos de pessoas, o comportamento da mídia não foi assim.

Na época, houve um circo de horrores maior que o número de mortos. Na televisão, nos periódicos, nas revistas, pulavam de alegria diante de mais uma desgraça onde o culpado seria o governo brasileiro. Repórteres obedientes à orientação da pauta, articulistas que viraram autoridades, mais pareciam papa-defuntos. Na Folha de São Paulo, por exemplo, em 19 de julho se publicou:

O que ocorreu não foi acidente, foi crime

Gostaria imensamente de ter minha dor amenizada por uma manchete que estampasse, em letras garrafais, ‘GOVERNO ASSASSINA MAIS DE 200 PESSOAS’. O assassino não é só aquele que enfia a faca, mas o que, sabendo que o crime vai ocorrer, nada faz para impedi-lo. O que ocorreu não pode ser chamado de acidente, vamos dar o nome certo: crime.... Talvez o presidente não se importe tanto, afinal, quem viaja de avião não é beneficiário de sua bolsa-esmola, não faz parte do seu particular curral eleitoral cevado com o dinheiro que ele arranca de nós. Devem fazer parte das tais ‘elites’, que é como ele escarnece da classe média que faz (apesar do governo) o país crescer”.

E mais se dizia:

Incompetência, imprudência, tragédia. A despeito das causas do acidente com o Airbus A-320 da TAM, o desastre potencializa a crise da aviação civil, escancara a precariedade do transporte aéreo brasileiro e torna ainda mais urgente uma redefinição ambiciosa e profunda do sistema. É inacreditável que reiteradas demonstrações de inépcia, ao longo de dez meses de crise, não tenham rendido nenhuma demissão no alto escalão do governo Lula”, no editorial.

E as circunstâncias eram desfavoráveis: chovia, a pista estava escorregadia, as reformas são recentes, faltam as ranhuras (riscos para produzir mais atrito nas rodas).

Pairando sobre o vôo 3054, havia também o Boeing da Gol e dez meses de crise, greve e prisão de controladores, nevoeiros, trocas de acusações, panes de rádios, suspeitas quanto aos radares. Um sistema em xeque. Seus operadores, sob profundo estresse. Pequenos erros podem virar grandes tragédias. E há a falta de comando do governo e a ganância das companhias”.

Para haver justiça, deve ser dito que em toda a grande mídia, dos impressos à televisão, o tom e o clima foram de um oportunismo político sem escrúpulo, que poderia assim ser resumido: “Há desgraça, estou presente. Há cadáveres, vou cheirar sua carniça”.
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