"Talvez a mídia deixe de ser um emprego e se transforme num hobby"

Frank Horni, Der Spiegel

"Em entrevista à "Spiegel", Chris Anderson, editor-chefe da revista Wired de tecnologia e cultura, discute o desafio da Internet à imprensa tradicional, os novos modelos de negócio na web e porque ele prefere ler o Twitter a um jornal diário.

Spiegel: Sr. Anderson, vamos falar sobre o futuro do jornalismo.
Anderson: Esta será uma entrevista muito tediosa. Eu não uso a palavra jornalismo.

Spiegel: Tudo bem, e quanto aos jornais? Eles estão em maus lençóis tanto nos Estados Unidos como no resto do mundo.
Andersn: Desculpe, eu não uso a palavra mídia. Não uso a palavra notícia. Não acho que essas palavras signifiquem alguma coisa hoje. Elas definem o mundo editorial do século 20. Hoje, são uma barreira. Elas estão bloqueando nosso caminho, como uma carruagem sem cavalos.

Spiegel: Quais palavras você usa?
Anderson: Não há outras palavras. Estamos numa daquelas épocas estranhas em que as palavras do século passado não têm mais significado. O que notícia significa para você, quando a maior parte das notícias é criada por amadores? São as notícias vindas de um jornal, de um grupo de discussão ou de um amigo? Eu simplesmente não consigo pensar numa definição para essas palavras. Aqui na Wired, nós paramos de usá-las.

Spiegel: Espere um minuto. Os chamados jornalistas cidadãos e blogueiros mudaram o significado da palavra "mídia". Mas sem os meios de comunicação tradicionais eles não teriam muito a fazer na verdade. A maioria dos amadores comenta o que a imprensa de qualidade informa. A pergunta é: você leu um jornal hoje de manhã?
Anderson: Não.

Spiegel: O jornal do lugar onde você mora, o San Francisco Chronicle, está lutando pela sobrevivência. Se ele desaparecesse amanhã...
Anderson: ... Eu não perceberia. Eu não saberia nem mesmo o que estaria perdendo.

Spiegel: Então como você se mantém informado?
Anderson: A informação surge de muitas formas: pelo Twitter, aparece no meu inbox, na minha base de RSS, através de conversas. Eu não saio procurando por ela.

Spiegel: Você simplesmente não se preocupa.
Anderson: Não, eu me preocupo. Você sabe, eu escolho minhas fontes, e eu confio nas minhas fontes.

Spiegel: Assim como milhões de pessoas confiavam na mídia tradicional.
Anderson: Se aconteceu alguma coisa importante no mundo, eu vou ficar sabendo. Fico sabendo dos protestos no Irã antes de eles aparecerem nos jornais porque as pessoas que eu acompanho no Twitter se preocupam com essas coisas.

Spiegel: O New York Times, a CNN, a Reuters e outros podem publicar suas melhores reportagens na internet que você nunca as lê?
Anderson: Leio muitos artigos da mídia tradicional, mas não a procuro diretamente para lê-los. Eles chegam até mim, o que é muito comum nos dias de hoje. Cada vez mais pessoas estão escolhendo filtros sociais para ler as notícias em vez de filtros profissionais. Estamos nos desligando das notícias da televisão, dos jornais. E ainda assim ficamos sabendo das coisas importantes; só que não é mais aquela saraivada de notícias ruins. São notícias que importam. Acho que no momento em que algo chega até mim é porque foi avaliado por pessoas em que eu confio. Então as bobagens que não importam não vão chegar até mim.”
UOL Internacional / Tradução: Eloise de Vylder
Entrevista Completa, ::Aqui::

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