“O professor e jornalista Bernardo Kucinski analisa as medidas do governo brasileiro e seus impactos na política e na economia para a edição de junho da Revista do Brasil, que chega às bancas na próxima semana
Bernardo Kucinski, Revista do Brasil
A crise internacional pegou a economia brasileira em um de seus melhores momentos. O governo brasileiro reagiu rápido e pela primeira vez atacou a voracidade dos juros. Para recuperar o crescimento que estava em ritmo de “milagre”, desta vez com democracia e distribuição de renda, o país enfrenta uma encruzilhada: ou radicaliza na ampliação do mercado interno e no combate aos juros extorsivos, ou regride.
Os primeiros efeitos da crise entre nós foram a disparada do dólar e o sumiço súbito do crédito. O governo agiu, corretamente, para estancar a disparada da moeda americana. Para segurar o dólar, o Banco Central sacou das reservas internacionais e entrou vendendo a moeda americana. Para desarmar qualquer risco de uma corrida aos pequenos bancos, anunciou a ampliação da garantia de depósitos e aplicações para até R$ 20 milhões para instituições menores em dificuldades de liquidez. No mercado interno, tomou medidas que foram do estímulo ao crédito à redução de impostos.
Enquanto a maioria dos jornalistas “especializados” alimentava o pânico com uma visão pessimista do futuro, as medidas de reação e as análises mais sóbrias sobre elas aconteciam sem alarde. O filósofo Marcos Nobre escreveu que Lula “rompeu pela primeira vez o terrorismo econômico que se instalou desde a globalização econômica da era FHC”. E lembrou das políticas de valorização do salário mínimo e sua extensão dos benefícios da previdência. A proteção da renda dos mais pobres foi a plataforma de recuperação. Tudo o que os tucanos, demos e seus seguidores na imprensa criticavam, é o que detém os efeitos da crise.
Após a queda de 3,6% no PIB do último trimestre de 2008, Lula radicalizou. Fez da crise uma oportunidade para deflagrar mudanças estruturais há muito desejadas pelos setores mais esclarecidos da sociedade. Os bancos privados continuavam a não emprestar? Que entrem em cena os grandes bancos estatais. Mais uma vez se mostrou a importância de terem sido estancadas as privatizações promovidas pelo tucanato no setor bancário. BB, Banco do Nordeste, Caixa e BNDES ativaram o crédito que os privados negavam.
O BNDES já tinha atingido o limite de empréstimos em relação ao seu capital? Aumente-se o capital do BNDES. O presidente do BB não entendeu a situação? Troque-se o presidente do BB.
Mais importante foi o ultimato ao BC de Henrique Meirelles, que havia cometido o desatino de elevar ainda mais os juros em plena crise, de 13% para 13,75%. A partir de janeiro, foram cortados 3,5 pontos e a Selic chegou a 10,25%.
Outra frente em que Lula radicalizou foi na busca da unidade dos governos sul-americanos. Principalmente para desarmar as tentativas de guerra comercial que sempre acontecem em momentos de desespero econômico.
Enquanto isso, os governadores pouco fizeram para evitar a recessão. Poderiam reduzir o ICMS, principal imposto estadual – e mais pesado. Apenas Roberto Requião, no Paraná, reduziu o ICMS em 95 mil itens de consumo popular. Nos demais, houve algumas outras reduções isoladas, mas não para combater a recessão e sim como parte de uma eterna guerra fiscal.
José Serra, de São Paulo, onde está 35% da indústria do país, prometeu cortar impostos em materiais usados na produção para exportação, mas ficou só na retórica. E partiu para a implantação agressiva de pedágios novos nas rodovias estaduais. Na Rodovia Marechal Rondon, um trecho entre Bauru e Campinas – importante eixo de transporte de alimentos –, que antes custava R$ 7,40, agora está R$ 18,80.
A lógica: mais impostos para construir mais pontes, viadutos e estradas, não porque criam emprego, mas por que têm visibilidade, rendem votos do interior e mais apoio das empreiteiras nas finanças eleitorais. De olho em 2010, acreditam que podem tirar proveito eleitoral se a recessão derrubar a popularidade do presidente.
O plano de construção de um milhão de moradias populares fortemente subsidiadas é mais uma cartada dessa radicalização. Por isso mesmo, governadores e prefeitos demos e tucanos relutam em aderir. Lula cresceu com a crise. A oposição encolheu. O país enfrenta uma encruzilhada, ou radicaliza ou regride.”
Artigo Completo na Revista do Brasil
Bernardo Kucinski, Revista do Brasil
A crise internacional pegou a economia brasileira em um de seus melhores momentos. O governo brasileiro reagiu rápido e pela primeira vez atacou a voracidade dos juros. Para recuperar o crescimento que estava em ritmo de “milagre”, desta vez com democracia e distribuição de renda, o país enfrenta uma encruzilhada: ou radicaliza na ampliação do mercado interno e no combate aos juros extorsivos, ou regride.
Os primeiros efeitos da crise entre nós foram a disparada do dólar e o sumiço súbito do crédito. O governo agiu, corretamente, para estancar a disparada da moeda americana. Para segurar o dólar, o Banco Central sacou das reservas internacionais e entrou vendendo a moeda americana. Para desarmar qualquer risco de uma corrida aos pequenos bancos, anunciou a ampliação da garantia de depósitos e aplicações para até R$ 20 milhões para instituições menores em dificuldades de liquidez. No mercado interno, tomou medidas que foram do estímulo ao crédito à redução de impostos.
Enquanto a maioria dos jornalistas “especializados” alimentava o pânico com uma visão pessimista do futuro, as medidas de reação e as análises mais sóbrias sobre elas aconteciam sem alarde. O filósofo Marcos Nobre escreveu que Lula “rompeu pela primeira vez o terrorismo econômico que se instalou desde a globalização econômica da era FHC”. E lembrou das políticas de valorização do salário mínimo e sua extensão dos benefícios da previdência. A proteção da renda dos mais pobres foi a plataforma de recuperação. Tudo o que os tucanos, demos e seus seguidores na imprensa criticavam, é o que detém os efeitos da crise.
Após a queda de 3,6% no PIB do último trimestre de 2008, Lula radicalizou. Fez da crise uma oportunidade para deflagrar mudanças estruturais há muito desejadas pelos setores mais esclarecidos da sociedade. Os bancos privados continuavam a não emprestar? Que entrem em cena os grandes bancos estatais. Mais uma vez se mostrou a importância de terem sido estancadas as privatizações promovidas pelo tucanato no setor bancário. BB, Banco do Nordeste, Caixa e BNDES ativaram o crédito que os privados negavam.
O BNDES já tinha atingido o limite de empréstimos em relação ao seu capital? Aumente-se o capital do BNDES. O presidente do BB não entendeu a situação? Troque-se o presidente do BB.
Mais importante foi o ultimato ao BC de Henrique Meirelles, que havia cometido o desatino de elevar ainda mais os juros em plena crise, de 13% para 13,75%. A partir de janeiro, foram cortados 3,5 pontos e a Selic chegou a 10,25%.
Outra frente em que Lula radicalizou foi na busca da unidade dos governos sul-americanos. Principalmente para desarmar as tentativas de guerra comercial que sempre acontecem em momentos de desespero econômico.
Enquanto isso, os governadores pouco fizeram para evitar a recessão. Poderiam reduzir o ICMS, principal imposto estadual – e mais pesado. Apenas Roberto Requião, no Paraná, reduziu o ICMS em 95 mil itens de consumo popular. Nos demais, houve algumas outras reduções isoladas, mas não para combater a recessão e sim como parte de uma eterna guerra fiscal.
José Serra, de São Paulo, onde está 35% da indústria do país, prometeu cortar impostos em materiais usados na produção para exportação, mas ficou só na retórica. E partiu para a implantação agressiva de pedágios novos nas rodovias estaduais. Na Rodovia Marechal Rondon, um trecho entre Bauru e Campinas – importante eixo de transporte de alimentos –, que antes custava R$ 7,40, agora está R$ 18,80.
A lógica: mais impostos para construir mais pontes, viadutos e estradas, não porque criam emprego, mas por que têm visibilidade, rendem votos do interior e mais apoio das empreiteiras nas finanças eleitorais. De olho em 2010, acreditam que podem tirar proveito eleitoral se a recessão derrubar a popularidade do presidente.
O plano de construção de um milhão de moradias populares fortemente subsidiadas é mais uma cartada dessa radicalização. Por isso mesmo, governadores e prefeitos demos e tucanos relutam em aderir. Lula cresceu com a crise. A oposição encolheu. O país enfrenta uma encruzilhada, ou radicaliza ou regride.”
Artigo Completo na Revista do Brasil
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