Quem dança é o leitor

Alberto Dines, Observatório da Imprensa

“Como os jornais saem todos os dias e os fatos não são estanques, supõe-se que os assuntos de uma edição deveriam ser acompanhados nas edições seguintes. Suposição errada: nossos jornais procuram a descontinuidade e, não, a continuidade. Isso fica mais nítido nos fins de semana e principalmente nos feriadões, como o que se encerrou no domingo de Páscoa.

Durante três dias – sexta, sábado e domingo – as primeiras páginas foram armadas com assuntos de gaveta, sem conexão com o noticiário dos dias anteriores. Nem a greve de fome do presidente boliviano Evo Morales, os desdobramentos da Operação Satiagraha ou os incríveis desperdícios do dinheiro do contribuinte pelos congressistas conseguiram empolgar e produzir encadeamentos mais consistentes.

A causa está no estranho sistema adotado na redações brasileiras nos últimos anos: sim, os jornais são diários, saem todos os dias, mas o trabalho é intermitente. Nos dias que antecedem os feriadões as equipes desdobram-se, preparam matérias por antecipação, a continuidade e a atualidade que se danem.”
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