O papel sujo da Folha de SP

Urariano Mota, Direto da Redação

“Em 17 de fevereiro, ao publicar o editorial Limites a Chávez, a Folha de São Paulo nem imaginava o ciclone imenso que provocou. É que lá no texto ela escreveu “...Mas, se as chamadas ‘ditabrandas’ - caso do Brasil entre 1964 e 1985 - partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça...”, de passagem, como se nada fosse, substituindo Ditadura por Ditabranda. E fez mais: ao receber mensagens dos professores Fábio Konder Comparato e Maria Victoria de Mesquita Benevides, que protestaram contra o insulto à memória histórica, a Folha de São Paulo assim respondeu:

...Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio a ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua ‘indignação’ é obviamente cínica e mentirosa”.

Para quê? Essa qualificação, de indignação cínica e mentirosa, aplicada às palavras de dois intelectuais honrados, provocou o gancho, acordou as forças de todo o mundo culto e democrata do Brasil. Com 2.381 assinaturas, lideradas pelo crítico literário Antonio Cândido (2.381 às 16 horas deste 25.2.2009), corre um abaixo-assinado de protesto, que pode ser acessado em http://www.ipetitions.com/petition/solidariedadeabenevidesecomparat/signatures-1.html

Então começaram a voltar à tona histórias e História, do passado da Folha de São Paulo, que contavam, relatavam o seu mais que apoio, a sua participação nos crimes da ditadura militar. Das histórias, todas com dolorosos depoimentos de humanidade e denúncia, a da jornalista Rose Nogueira mais chama atenção, pelo caráter particular da sua posição no tempo. Rose era funcionária do jornal, repórter da Folha, quando foi presa em 1969. No entanto, ela descobriu 27 anos depois que foi punida

não apenas pela polícia toda-poderosa, pela justiça militar. Ao buscar nos arquivos da Folha de S. Paulo a minha ficha funcional, descubro que, em 9 de dezembro de 1969, quando estava presa no Deops, incomunicável, 'abandonei' meu emprego de repórter do jornal. Escrito a mão, no alto: ABANDONO. E uma observação oficial: Dispensada de acordo com o artigo 482 – letra 'i' da CLT abandono de emprego'. Por que essa data, 9 de dezembro? Ela coincide exatamente com esse período mais negro, já que eles me 'esqueceram´por um mês na cela'. Todos sabiam que eu estava lá. Isso era – e continua sendo – ilegal em relação às leis trabalhistas e a qualquer outra lei, mesmo na ditadura dos decretos secretos. Além do mais, nesse período, se estivesse trabalhando, eu estaria em licença-maternidade" (Do seu artigo "Em corte seco", no livro "Tiradentes um presídio da ditadura", coord. Alípio Freire, Izaías Almada e J.A. de Granville-Ponce – Scipione Cultural – 1997).”
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Comentários

Anônimo disse…
E pensar que o Roberto Marinho era demonizado. Ele, pelo menos dizia o seguinte sobre a ditadura e seus funcionários de esquerda: "Nos meus comunistas ninguém toca".

Abraços
Vitório Tomaz disse…
Tive aula com o professor Valério Arcary durante o colegial, e ele trazia histórias de que a Folha durante a ditadura militar emprestava o carro de entregar jornal para o DOPS prender pessoas. O que dava ao DOPS o elemrnto surpresa.
E depois ela fala em ditadura, rsrs