Coisas da Política - A crise e a volta ao protecionismo

Mauro Santayana, JB Online

“A crise não uniu os europeus: conforme constatou Le Monde, cada um dos 27 membros da União Européia tem seu próprio plano de salvação. Em muitos deles está prevista a nacionalização dos bancos. A crise poderia ter contribuído para reforçar a unidade continental, mas parece mais fácil distribuir os resultados da prosperidade do que os sacrifícios da recessão. Como sempre, os países mais fortes cuidam de se defender, e deixou de prevalecer o princípio da solidariedade, que orientou os esforços de Robert Schumann e Jean Monnet para estabelecer, com a Comunidade Européia do Carvão e do Aço, as bases da união econômica e política do continente.

Mas não são somente os europeus que buscam voltar-se para dentro de suas casas, a fim de salvar-se da tormenta. Não obstante a proposta de novo trato com o mundo, feita pelo presidente Obama, durante a campanha, o pacote de ajuda financeira aprovado pelo Congresso conta uma cláusula, perdida nas centenas de páginas do documento, que está sendo chamada de buy american. As indústrias que usarem insumos estrangeiros, como o aço – e isso nos prejudica – não poderão contar com a ajuda do Tesouro. Essa cláusula atinge diretamente a indústria automobilística.

A biópsia do sistema financeiro internacional vem confirmando que a erosão da economia globalizada é consequência direta da dissolução da palavra, como expressão da boa-fé dos contratos. Ainda que a violação dos contratos fosse norma comum entre os trapaceiros que sempre houve no mundo dos negócios, os grandes banqueiros os respeitavam, entre eles mesmos, a fim de que pudessem explorar, com mais eficiência e segurança, os seus negócios. Os contratos, sem embargo, quase sempre prejudicavam os trabalhadores, o que obrigou o Estado a criar leis que os protegessem.”
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