“O espectro da tortura ronda os quartéis brasileiros. O ministro Tarso Genro quer exorcizá-lo, mas os militares parecem estar apegados a ele como se fosse uma relíquia histórica. Estão errados. Em lugar de protestos públicos e reações hostis, deveriam se render aos imperativos da realidade e fazer história, com um pedido, este sim público, de desculpas à nação.
Não seria um gesto de fraqueza, mas de virtú - no sentido romano de vigor, de vitalidade renovadora. Por que não o fazem? Nessas mais de duas décadas de construção da democracia o espectro da tortura - e dos torturadores - foi tratado pelos governos civis, democraticamente eleitos, como se fosse algo inexistente. A argentina exorcizou seus fantasmas, o Chile também. O Brasil não. Preferiu o silêncio não republicano.
Ao negar-se a olhar nos olhos da história, optou pela repetição da trágica omissão que se seguiu à anistia do fim do Estado Novo. Tortura é crime contra a humanidade, não importa se praticada por governos de direita ou de esquerda. É crime que não comporta anistia. A omissão da esquerda e dos liberais quanto ao julgamento dos crimes de tortura do Estado Novo e, inclusive a glorificação de Getúlio Vargas, responsável primeiro pelos crimes que marcaram a história de forma indelével, acendeu o estopim da tortura no pós-64. Não se trata de revanche, nem de justiça. Seu sentido é pedagógico.”
Francisco Viana, Terra Magazine
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